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Dia sem crise tem alta de 6% na bolsa

Dólar cai 2,8% e volta a valer R$ 2,12, menor cotação desde novembro

Fonte: Correio BrazilienseTags: crise

Ricardo Allan

Os últimos indicadores econômicos e as perspectivas de melhora da conjuntura em curto prazo deixaram consumidores, empresários, investidores e economistas menos pessimistas (veja quadro acima). O movimento foi bem perceptível nas últimas semanas, mas ainda não pode ser considerado uma retomada do otimismo, o que só deve surgir com a consolidação de vários dados positivos. Pelo menos, a expectativa deixou de piorar, o que já é um avanço diante das sombrias previsões que viraram moeda corrente entre julho do ano passado e fevereiro deste ano. Dependendo do grau de catastrofismo do analista, elas iam da quebradeira em série das grandes corporações mundiais ao colapso total do capitalismo globalizado, passando por uma depressão que duraria pelo menos uma década.

As operações do mercado ontem foram um exemplo cabal da melhora no ânimo dos investidores. Em Nova York, os investidores se mostraram confiantes no desempenho futuro dos bancos. O megainvestidor Warren Buffett qualificou o banco Wells Fargo de “fabuloso”, o que fez suas ações subirem 23,7%. O Goldman Sachs recomendou a compra de ações do setor. O índice Dow Jones cresceu 2,61%, o S&P 500, 3,39% e o Nasdaq, 2,58%. No Brasil, o clima foi melhor ainda. Com a perspectiva de alta nos preços das commodities, a bolsa paulista (Bovespa) fechou em 6,59%, maior valorização desde 2 de janeiro, e voltou ao nível de 50.404 pontos de setembro de 2008. Os ganhos no ano são de 34,23%. O dólar fechou em R$ 2,126, o menor valor desde 5 de novembro. A queda foi de 2,83%.

Fatores
Nas últimas duas semanas, o humor melhorou, principalmente pelo não cumprimento das projeções catastróficas de meses atrás. O governo dos Estados Unidos convenceu os investidores de que não vai permitir a quebra dos maiores bancos do país (Citigroup e Bank of America) e das montadoras General Motors (GM) e Chrylser. Outros fatores de estímulo foram a reunião do G-20, grupo das 19 maiores economias do mundo e a União Europeia, que acertou uma expansão fiscal de US$ 6 trilhões em estímulos ao crescimento e multiplicou por três o orçamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) para salvar países em dificuldades. O fundo trilionário dos EUA para comprar papéis podres dos bancos também é responsável pela animação dos agentes econômicos.

“De fato, existem motivos para que os consumidores, empresários e investidores estejam mais animados. Os sinais de otimismo vêem de todo o mundo, principalmente das economias mais relevantes neste momento, que são a norte-americana e a chinesa. Já dá para dizer que estamos vendo a luz no fim do túnel”, garante a economista Alessandra Ribeiro, da Tendências Consultoria. Para ela, a crise não se desenrolou da maneira dramática como os analistas previam inicialmente por causa da reação enérgica dos governos e dos bancos centrais dos principais países, que derramaram trilhões de dólares nos mercados. “A queda não será tão grande, mas a recuperação vai demorar um pouquinho.”

Por enquanto, a tendência é de que a economia mundial continue dando sinais contraditórios, com uns dados melhorando e outros permanecendo no buraco. Alessandra acredita que a retomada do crescimento nos Estados Unidos começará, timidamente, no segundo semestre, com o Produto Interno Bruto (PIB) fechando em queda de 2,5% em 2009 e de 1% em 2010. Para o Brasil, a Tendências aposta no reaquecimento já neste trimestre e num crescimento do PIB de 0,3% neste ano e de 3,5% no que vem. A projeção dos cerca de cem analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) ainda aponta para uma retração de 0,3% até dezembro. Mas o indicador começa a reagir. Essa foi a segunda melhora desde que o dado chegou ao resultado negativo de 0,49%, na terceira semana de abril.

Momento
No relatório divulgado ontem pelo BC, a previsão para a produção industrial também ficou “menos pior”, passando de uma contração de 4% para uma de 3,84%. O saldo da balança comercial esperado passou de US$ 16 bilhões para US$ 17 bilhões, o que contribui para a diminuição do déficit nas transações do país com o exterior, que passaria de US$ 19,5 bilhões para US$ 19 bilhões. A estimativa para a taxa de câmbio no fim do ano caiu de R$ 2,25 para R$ 2,20, o que também reduz o rombo nas contas externas. Os índices de confiança dos agentes econômicos melhoraram, principalmente por causa de uma perspectiva mais favorável quanto a progressos na economia nos próximos seis meses.

“É mais adequado qualificar este momento como um pessimismo menor do que como otimismo moderado. Isso não significa uma reversão de tendência”, afirma o economista-chefe da RC Consultores, Marcel Pereira.

Na sua visão, o principal fator para a melhora do humor foi a resistência das gigantes corporativas norte-americanas, que estão à beira do abismo mas não decretaram a falência. O grande temor dos investidores era uma derrocada em série depois que o governo dos Estados Unidos deixou o banco de investimentos Lehmann Brothers quebrar, em julho do ano passado. “Uma quebra no setor financeiro e nas montadoras de automóveis iria gerar um desemprego em massa, piorando a crise social que foi criada em virtude da crise econômica. O afastamento desse quadro ameaçador tem animado as bolsas de valores do mundo”, diz. Para Alessandra Ribeiro, o grande teste será o funcionamento do fundo para a compra dos ativos podres dos bancos. “Se ele falhar, a situação vai piorar muito”, assegura.

 

garfada da Bovespa

A crise levou a Bovespa a dar uma garfada no bolso dos investidores. Desde ontem, as corretoras de valores estão sendo obrigadas a cobrar taxa de custódia sobre o capital aplicado dos clientes. A cobrança será de R$ 5 para contas sem movimentação e de R$ 10 para aquelas com movimentação ou posição de ativos de renda variável. Haverá ainda uma taxa mensal sobre o valor da carteira do investidor no último dia útil de cada mês.